Foi
isso que conclui. Posso dizer que não era MPB. Mas é próximo disso. A língua é
o português. Claro, de viés. No word dizia português brasileiro, gostei. Minha
pátria é minha língua, fala mangueira. Tudo começou com meu gosto de escutar
música. Ficar cheio de sensação. Meu pai também sentava comigo para apresentar
um disco ou contar histórias. Eu ficava vidrado nos discos dele. Livros, filmes
e discos e deixem que digam que pensem que falem, eu não tô fazendo nada, você
também.
Virou um tipo de
obsessão. Consumiu minha linguagem. Tudo era frase feita de canção. Meu
pensamento pensava canção. Para cada momento uma canção, com tom de vinheta de
rádio. Começou a me preocupar, mas eu amava, como amava algum cantor. Cantei,
cantei demais, até ficar com dó de mim. Escutei e prestei atenção em tudo que
eu podia. Aos poucos, entendi que uma palavra poderia desencadear o processo da
memória. Às vezes um som, palavra que nem tornou ainda, e como desenho sonoro,
trazia uma frase musical e logo uma nova canção. Estaria o mundo todo descrito
nas canções. Se você tem uma ideia incrível é melhor fazer uma canção?
De um prazer de lembrar
e saber de cor, passei a constituir um tique nervoso e perturbar as conversas.
Eu cantava por cima do diálogo. Fazia trocadilhos baseado nas canções. No início, eu conseguia esperar certo ponto
final e ai sim cantar, mas aos poucos eram tantas as conexões que eu precisava
falar nas vírgulas também. Como você pode notar estou melhor na escrita. Música
é som. A escrita é mais silenciosa, mas de repente vem. Mesmo eu no meu
automóvel. O profundo silêncio da música. Ainda na época que eu sentia prazeres
controláveis, eu entendi que Caetano e Milton estavam pra mim como oráculos. Eu
tinha uma pergunta e uma letra aparecia para me indicar um caminho. Claro, só
sinalizava, eu interpretava. Um tarô sonoro. Eu sonhava acordado, um jeito de
não sentir dor. Nem tão Cazuza assim. Os dizeres poéticos dos dois primeiros me
arrebatavam mais. E ainda é assim. Como ver o mar, a primeira vez. Aos poucos,
veio o Gil com muita força. Imagina que cada um desses são centenas de canções,
poemas intensos, rezas, lamentos, alegrias que moram no ar.
Chega uma hora que
a gente se perde. Rir pra não chorar. Não se esqueça de mim, não se perca de mim, não desapareça, e
eu não mais falava com minha linguagem. Dizia com clichês, colagens, restos de
canção. Meu coração não se cansa. A casa lá na fazenda. Contra a luz do sol não
tem argumento. O sol há de brilhar mais uma vez. Uma coisa puxa outra. O mais
profundo ficava sendo a superfície. Com vários pontos de vista. Óculos escuros
para minhas lágrimas esconder. A rima é vibração mágica concreta. Quantas não
são as rimas em ão. Ou em ado. Particípio passado. Na prosa de Joyces e Rosas,
nas textualidades, tramas textuais, onde o ponto, a costura deve ser seguida,
senão não tece. Aranha tece puxando o fio da teia. Muita gente desconhece ô
lara viu, muita gente desconhece. Eu agradeço ao povo brasileiro, mas tudo é
muito mais. A língua deixou de ter território, mas tem limites. Eu sabia que as
possibilidades sim são infinitas. Sim, mesmo com minha perdição, eu criava cada
vez de novo. Por um momento meu canto contigo compactua. Lua. Lua. Lua.
Em determinadas épocas
uma saída era estar sempre numa roda de violão. Cantar junto com todo mundo.
Quanta emoção! O importante é que emoções eu vivi. Mais do que eu, como nossos
pais, a tristeza que é senhora desde que o samba é samba. Samba que na minha
terra deixa a gente mole. E cria a moral: quem não gosta de samba bom sujeito
não é. Eu estava direto no samba. Bamba, bom. Ê semba ê, semba ah...solução por
um tempo, senhor tão bonito, tempo, tempo, tempo. Nos dias quentes, sempre tem
samba bom. Se fizer bom tempo amanhã, eu vou...chove chuva, chove sem parar.
Benjor sempre foi alegre. Mesmo quando o seu amor o deixava. Eu gosto dela
mesmo assim. Um que ficou tipo eu foi o Bosco. Vazia rabo de tatu, língua de
porco, belzebu, se bem que devia ser coisa do Aldir. Samba bom. Samba rebuscado
e barroco. Eu voltava cantarolando algo quando acabava uma roda. Ali estava em
casa, adorava a minha casa vive aberta, abre fecha as portas do coração. O
mestre Vinicius. Às vezes ficava fossa, às vezes bossa, às vezes só charme,
melodia gostosa e pensamento na paisagem do Rio de Janeiro, que continue lindo!
Estou morrendo de saudade. Como vocês estão vendo, hora ou outra vialinguagem torna louvação. Louvo a amizade disso que escrevo agora que comigo há de morrer. Adeus, vou pra não voltar. Sei que vou sozinho. E assim vejam vocês as cristalizações. Belas. Lindas mais que demais. Sabe gente é tanta coisa que eu não sei dizer. Toda dia ela faz tudo sempre igual. Não confundam, a mulher com minha viagem. Falo do eterno retorno. Pequeno da linguagem. Sempre novo, sempre malandragem, e eis o malandro na praça outra vez. Bate outra vez. Já vai terminando o verão enfim. As rosas não falam. Eu me perdi na selva de pedra. Tente outra vez, hahahaha...elas conversam entre si. Na escrita, toma forma de uma coisa automática, tipo surrealista, porém diferente por conta da poética das letras. São de sentido, mesmo que cinematograficamente entrecortadas. Algo que se persegue, encaminha, arrasta, para uma paisagem bem nossa. Nossa está alargando. Quem é nós?
Estou morrendo de saudade. Como vocês estão vendo, hora ou outra vialinguagem torna louvação. Louvo a amizade disso que escrevo agora que comigo há de morrer. Adeus, vou pra não voltar. Sei que vou sozinho. E assim vejam vocês as cristalizações. Belas. Lindas mais que demais. Sabe gente é tanta coisa que eu não sei dizer. Toda dia ela faz tudo sempre igual. Não confundam, a mulher com minha viagem. Falo do eterno retorno. Pequeno da linguagem. Sempre novo, sempre malandragem, e eis o malandro na praça outra vez. Bate outra vez. Já vai terminando o verão enfim. As rosas não falam. Eu me perdi na selva de pedra. Tente outra vez, hahahaha...elas conversam entre si. Na escrita, toma forma de uma coisa automática, tipo surrealista, porém diferente por conta da poética das letras. São de sentido, mesmo que cinematograficamente entrecortadas. Algo que se persegue, encaminha, arrasta, para uma paisagem bem nossa. Nossa está alargando. Quem é nós?
Sabe que com o tempo,
as canções dos amigos também passaram a me compor, mais próximos, minha geração, também
passei a criação. Geração coca-cola, escapuliu. Geração graveola. Outras cidades
e Pra lá do radar da paranóia. Os moralistas estão chegando, que vem colado nos
alquimistas estão chegando. Jamais se submeta a mim, eu posso te escravizar. Vi
então uma época que renovava as frases, com um efeito menor, entre estados novos d´alma. Nem
sempre amigos de outros estados sabiam, talvez mais múltipla, talvez mais
pulverizada. E quando estive, não me vi, era a paisagem. No carnaval, te conheci,
transcendental, te seguir...
Nela estava uma
possibilidade de comunidade. Das mais fortes, esta linha que me conduz, não é a
mesma para outros e também o é, interseções muitas, referências em comum. É o
que pode jogar mundos no mundo. Ou todos numa pessoa só. Ele quem é ele, esse
tal de rock´n´roll. E meu relógio parou. Tradição. Conheci uma garota que era
do babarbalho, uma garota do barbulho. Namorava um rapaz que era muito inteligente.
Comportamento. O que será que será? Um gigante como Homero, cantado na lira
desvairada em nome de um tal pau-brasil, que eram vários, variadas árvores,
floresta tropical. Beirava, estou ciente,
ao louco, mas louco é quem em diz que não é feliz e eu continuava. Independente
da minha vontade, um homem pode ir ao fundo, do fundo, do fundo se for por
você. Você. Quantas vezes você. Você viu só que amor. Só tinha de ser com você.
Você abusou. E quem, quem também. Quem? Quem te viu, quem te vê.
A psicanálise também
entrou no amálgama. O afreudisíaco Lacan confirmava a atração das palavras. Ainda mais com o som. La langue, la music avant toute
chose. Uma
letra escrita na estruturação do menino do rio. Quando eu te vejo, eu desejo,
seu desejo. A poesia língua nossa mãe, pai da ordem, terra. Sem ti me
consumiria a mim mesmo eternamente e de nada valeria, acontecer deu ser gente e
gente outra viagem, diferente das estrelas. Não é que eu seja sem rumo, sem
norte, sigo a meta, tenho uma estrela, coração de poeta. Junto no cancioneiro
dos estados de alma da paisagem. Quem sabe de mim sou eu, aquele abraço. Mal
secreto. Uma canção capaz do olhar agudo da teoria. Que via o que não se via,
comovia mais que tudo. A verdade da repetição do prazer de ouvir o que se diz. Concretamente
irmãos campos, suprimindo as ideias e as outras paralisias, pelos roteiros.
Canto indígena que pelo
silêncio dizia. Então não é só de português que se vivia. Ninguém ouviu o
soluçar de dor no canto do brasil. Negro nagô. Canto ritual, espiritual, canto
antes tudo. Universal. Grito, urro primal, Guiné Bissal, Moçambique e Angola.
Maxakali, Huni Kuin, Yanomami. Cantar é escrever o mundo com a voz. Conversar
com as plantas e animais com a voz. Imitar o pássaro. Txaná. Uma pássaro que
sabe o canto dos outros é o que quero ser. Sem direito autoral. O canto que
cura. Cantando eu mando a tristeza embora. Quem canta seus males espanta. Om do
todo. On. No início era o canto e se fez verbo. Fortalece o canto em português
uma melodia da herança.
Eu um simples corpo,
vazado pelo ar, preenchido pelo canto, recheado de palavras. Não havia mais
como escapar. Preso ou livre. Constatei que era isso. Deuses escolhiam os
caminhos guiando o sentido por uma complexa trama entre o som, o silêncio e a
palavra. Aedos, trovadores, rezadores. Um chão vinha comigo, muita além da
verdade. Cancionava-me. Quando não havia de jeito nenhum uma frase melolavra
que dissesse o que meu corpo precisava, faltava algo, e quando de muita
intensidade, pulsava e ainda pulsa um relevo que misteriosamente surgia. Algo
ensinou. Na incompreensão eu não me sabia. Diluído canto. Eu sou canção.
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