quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Salve Mestre Jonas



           Mestre Jonas. Prazer conhecer sua música.
Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente e suas composições, mesmo que brevemente, somente desde o show que participei no dia 30 de maio de 2012 no Festival de Arte Negra em  homenagem ao mestre. E que prazer. Muito elaborada e simples, tradicional e moderna, samba e outros gêneros, uma música brasileira e antes de tudo bela.
         Há algum tempo, eu tenho pensado em uma questão, uma pergunta que vale pesquisar: que compositores, ou grupos estariam levando a frente a força, a inovação musical que é o afrosamba. Numa ida a Salvador tentei conversar e saber o que poderia estar acontecendo naquele sentido. Em vão. E quando veio a oportunidade de conhecer melhor a música de Mestre Jonas encontrei algo neste sentido. Tive uma percepção concreta que ali, na música do Mestre Jonas, estava presente algo da linhagem, do devir afro, do projeto desenvolvido por Baden Powell e Vinícius de Morais. E com muita qualidade.
         Por meio da Brisa, que me dava a possibilidade de ouvir o disco, soube que ele era filho de mãe de santo, umbandista. Tinha mais do que no sangue, na prática viva e diária, vivências que o Brasil tem, implodindo o país em ritmos, melodias e formas poéticas, através de incorporações arquetípicas, antropofágicas. Mas que as vezes, os brasileiros parecem esquecer, renegar.
A matriz denominada samba, tão importante para a nação Brasil, não parece ter problemas, garante um espaço, e acaba nomeando músicas como as de Vinicius/Baden ou a de mestre Jonas. Mas a parte afro da história é ainda entendida como algo menor, menos valioso e para a sociedade brasileira em geral menos presente na mídia. Em Belo Horizonte, ter relações com quem tenha, por exemplo, uma vida espiritual guiada por orixás é um privilégio. Não que sejam poucas as comunidades, mas porque essas culturas não estão tão presentes nas salas de exposições, nos cinemas ou na televisão quanto outras desimportancias.
     Conhecer essas entidades não é para quem vê tv. São jóias num Brasil tão católico e evangélico.  A falta de compreensão em todos os sentidos, dentre eles o sentido estético para a música ou de expressões de matrizes africanas presentes no país, tira a possibilidade de mais pessoas poderem dar continuidade ao que dá prosseguimento a inovações na arte como um todo, e visivelmente, no caso dos afrosambas.
       Mas para além disso,  a música de Jonas tem outras influências e logo outros futuros e rumos. É com alegria que notei ali, no show de homenagem a ele no Festival de Arte Negra, 2012, um traço que remeteu ao Edu Lobo. Talvez um certo jogo rítmico ligado a tambores, ou pelas melodias que dizemos de samba, mas um samba que tem melodias mais parecidas com o sertanejo, moda de viola, a cantoria católica, de benção, benditos e ladainhas. Aqui lembro outro que claro habitava mestre Jonas: Milton Nascimento. No único dia que estivemos juntos, ele tocou Paixão e Fé, samba, ou que quer que seja aquela música, digamos mineira. E nessa mistura temos ainda João Bosco como régua e compasso. Jonas chega a musicar letra de João em história digna de filme.
       Vendo entrevistas de arquivos que ficaram do mestre, pude conhecer um pensador, músico engajado com sua época e seus contemporâneos. Um músico consciente de sua forma de existir e fazer o que deve ser feito, principalmente quando se refere a suas composições. Chama a atenção uma fala sua que diz não ser ele sambista. Lembra seu flerte com jazz, harmonias de minas e do mundo. Que grande figura da música. Belo Horizonte seria mais charmosa dando mais espaço para pessoas assim.
       Por fim, foi impressionante estar presente num show dedicado ao mestre. A morte tem sua qualidade de dar intensidade aos que ficam. Uma intensidade que para além da individualidade de cada um, se torna grandiosa, imponente pela proposição de que diante dela não há luta, não há competição. Estamos todos juntos, numa centelha entre o céu e a terra. A fala de Sérgio Perere para uma grande roda, formada para saudar o amigo Jonas, foi o selo de uma noite que teria a entrega de todos, porque não se tratava de uma pessoa em direção a auto-promoção. Mas a história de uma geração, muito maior que qualquer que fosse a obra de cada um dos presentes.
      Quero poder apenas apontar a pontinha do iceberg que é o ser mestre Jonas e o que fica com a obra deixada em forma de desenhos, escritos em vários cadernos, nas mais variadas músicas nos mais variados tipos de registros e claro nos corações e impressões de todas aqueles que foram contemporâneos seus.

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