Mestre Jonas.
Prazer conhecer sua música.
Tive o prazer de conhecê-lo
pessoalmente e suas composições, mesmo que brevemente, somente desde o show que
participei no dia 30 de maio de 2012 no Festival de Arte Negra em homenagem ao mestre. E que prazer.
Muito elaborada e simples, tradicional e moderna, samba e outros gêneros, uma
música brasileira e antes de tudo bela.
Há algum
tempo, eu tenho pensado em uma questão, uma pergunta que vale pesquisar: que
compositores, ou grupos estariam levando a frente a força, a inovação musical
que é o afrosamba. Numa ida a Salvador tentei conversar e saber o que poderia
estar acontecendo naquele sentido. Em vão. E quando veio a oportunidade de
conhecer melhor a música de Mestre Jonas encontrei algo neste sentido. Tive uma
percepção concreta que ali, na música do Mestre Jonas, estava presente algo da
linhagem, do devir afro, do projeto desenvolvido por Baden Powell e Vinícius de
Morais. E com muita qualidade.
Por meio da
Brisa, que me dava a possibilidade de ouvir o disco, soube que ele era filho de
mãe de santo, umbandista. Tinha mais do que no sangue, na prática viva e
diária, vivências que o Brasil tem, implodindo o país em ritmos, melodias e
formas poéticas, através de incorporações arquetípicas, antropofágicas. Mas que
as vezes, os brasileiros parecem esquecer, renegar.
A matriz
denominada samba, tão importante para a nação Brasil, não parece ter problemas,
garante um espaço, e acaba nomeando músicas como as de Vinicius/Baden ou a de
mestre Jonas. Mas a parte afro da história é ainda entendida como algo menor,
menos valioso e para a sociedade brasileira em geral menos presente na mídia.
Em Belo Horizonte, ter relações com quem tenha, por exemplo, uma vida
espiritual guiada por orixás é um privilégio. Não que sejam poucas as
comunidades, mas porque essas culturas não estão tão presentes nas salas de
exposições, nos cinemas ou na televisão quanto outras desimportancias.
Conhecer essas
entidades não é para quem vê tv. São jóias num Brasil tão católico e
evangélico. A falta de compreensão
em todos os sentidos, dentre eles o sentido estético para a música ou de
expressões de matrizes africanas presentes no país, tira a possibilidade de
mais pessoas poderem dar continuidade ao que dá prosseguimento a inovações na
arte como um todo, e visivelmente, no caso dos afrosambas.
Mas para além
disso, a música de Jonas tem
outras influências e logo outros futuros e rumos. É com alegria que notei ali,
no show de homenagem a ele no Festival de Arte Negra, 2012, um traço que
remeteu ao Edu Lobo. Talvez um certo jogo rítmico ligado a tambores, ou pelas
melodias que dizemos de samba, mas um samba que tem melodias mais parecidas com
o sertanejo, moda de viola, a cantoria católica, de benção, benditos e
ladainhas. Aqui lembro outro que claro habitava mestre Jonas: Milton
Nascimento. No único dia que estivemos juntos, ele tocou Paixão e Fé, samba, ou
que quer que seja aquela música, digamos mineira. E nessa mistura temos ainda
João Bosco como régua e compasso. Jonas chega a musicar letra de João em
história digna de filme.
Vendo
entrevistas de arquivos que ficaram do mestre, pude conhecer um pensador,
músico engajado com sua época e seus contemporâneos. Um músico consciente de
sua forma de existir e fazer o que deve ser feito, principalmente quando se
refere a suas composições. Chama a atenção uma fala sua que diz não ser ele
sambista. Lembra seu flerte com jazz, harmonias de minas e do mundo. Que grande
figura da música. Belo Horizonte seria mais charmosa dando mais espaço para
pessoas assim.
Por fim, foi
impressionante estar presente num show dedicado ao mestre. A morte tem sua
qualidade de dar intensidade aos que ficam. Uma intensidade que para além da
individualidade de cada um, se torna grandiosa, imponente pela proposição de
que diante dela não há luta, não há competição. Estamos todos juntos, numa
centelha entre o céu e a terra. A fala de Sérgio Perere para uma grande roda,
formada para saudar o amigo Jonas, foi o selo de uma noite que teria a entrega
de todos, porque não se tratava de uma pessoa em direção a auto-promoção. Mas a
história de uma geração, muito maior que qualquer que fosse a obra de cada um
dos presentes.
Quero poder
apenas apontar a pontinha do iceberg que é o ser mestre Jonas e o que fica com
a obra deixada em forma de desenhos, escritos em vários cadernos, nas mais
variadas músicas nos mais variados tipos de registros e claro nos corações e
impressões de todas aqueles que foram contemporâneos seus.
Mestre Jonas.
Prazer conhecer sua música.
Tive o prazer de conhecê-lo
pessoalmente e suas composições, mesmo que brevemente, somente desde o show que
participei no dia 30 de maio de 2012 no Festival de Arte Negra em homenagem ao mestre. E que prazer.
Muito elaborada e simples, tradicional e moderna, samba e outros gêneros, uma
música brasileira e antes de tudo bela.
Há algum
tempo, eu tenho pensado em uma questão, uma pergunta que vale pesquisar: que
compositores, ou grupos estariam levando a frente a força, a inovação musical
que é o afrosamba. Numa ida a Salvador tentei conversar e saber o que poderia
estar acontecendo naquele sentido. Em vão. E quando veio a oportunidade de
conhecer melhor a música de Mestre Jonas encontrei algo neste sentido. Tive uma
percepção concreta que ali, na música do Mestre Jonas, estava presente algo da
linhagem, do devir afro, do projeto desenvolvido por Baden Powell e Vinícius de
Morais. E com muita qualidade.
Por meio da
Brisa, que me dava a possibilidade de ouvir o disco, soube que ele era filho de
mãe de santo, umbandista. Tinha mais do que no sangue, na prática viva e
diária, vivências que o Brasil tem, implodindo o país em ritmos, melodias e
formas poéticas, através de incorporações arquetípicas, antropofágicas. Mas que
as vezes, os brasileiros parecem esquecer, renegar.
A matriz
denominada samba, tão importante para a nação Brasil, não parece ter problemas,
garante um espaço, e acaba nomeando músicas como as de Vinicius/Baden ou a de
mestre Jonas. Mas a parte afro da história é ainda entendida como algo menor,
menos valioso e para a sociedade brasileira em geral menos presente na mídia.
Em Belo Horizonte, ter relações com quem tenha, por exemplo, uma vida
espiritual guiada por orixás é um privilégio. Não que sejam poucas as
comunidades, mas porque essas culturas não estão tão presentes nas salas de
exposições, nos cinemas ou na televisão quanto outras desimportancias.
Conhecer essas
entidades não é para quem vê tv. São jóias num Brasil tão católico e
evangélico. A falta de compreensão
em todos os sentidos, dentre eles o sentido estético para a música ou de
expressões de matrizes africanas presentes no país, tira a possibilidade de
mais pessoas poderem dar continuidade ao que dá prosseguimento a inovações na
arte como um todo, e visivelmente, no caso dos afrosambas.
Mas para além
disso, a música de Jonas tem
outras influências e logo outros futuros e rumos. É com alegria que notei ali,
no show de homenagem a ele no Festival de Arte Negra, 2012, um traço que
remeteu ao Edu Lobo. Talvez um certo jogo rítmico ligado a tambores, ou pelas
melodias que dizemos de samba, mas um samba que tem melodias mais parecidas com
o sertanejo, moda de viola, a cantoria católica, de benção, benditos e
ladainhas. Aqui lembro outro que claro habitava mestre Jonas: Milton
Nascimento. No único dia que estivemos juntos, ele tocou Paixão e Fé, samba, ou
que quer que seja aquela música, digamos mineira. E nessa mistura temos ainda
João Bosco como régua e compasso. Jonas chega a musicar letra de João em
história digna de filme.
Vendo
entrevistas de arquivos que ficaram do mestre, pude conhecer um pensador,
músico engajado com sua época e seus contemporâneos. Um músico consciente de
sua forma de existir e fazer o que deve ser feito, principalmente quando se
refere a suas composições. Chama a atenção uma fala sua que diz não ser ele
sambista. Lembra seu flerte com jazz, harmonias de minas e do mundo. Que grande
figura da música. Belo Horizonte seria mais charmosa dando mais espaço para
pessoas assim.
Por fim, foi
impressionante estar presente num show dedicado ao mestre. A morte tem sua
qualidade de dar intensidade aos que ficam. Uma intensidade que para além da
individualidade de cada um, se torna grandiosa, imponente pela proposição de
que diante dela não há luta, não há competição. Estamos todos juntos, numa
centelha entre o céu e a terra. A fala de Sérgio Perere para uma grande roda,
formada para saudar o amigo Jonas, foi o selo de uma noite que teria a entrega
de todos, porque não se tratava de uma pessoa em direção a auto-promoção. Mas a
história de uma geração, muito maior que qualquer que fosse a obra de cada um
dos presentes.
Quero poder
apenas apontar a pontinha do iceberg que é o ser mestre Jonas e o que fica com
a obra deixada em forma de desenhos, escritos em vários cadernos, nas mais
variadas músicas nos mais variados tipos de registros e claro nos corações e
impressões de todas aqueles que foram contemporâneos seus.