Começarei a
dizer deste grande amigo contemporâneo pela palavra-chave do curso no qual eu o
conheci: imaginauta. A imagem de um internauta. A imaginação de um astronauta:
GHustavo Távora. Um alucinético que com sua energia pernamundana inflava a
todos que o escutavam. A partir da fotos, aplicativos simples e gratuitos de
internet e uma poética inventiva, ele
criava blogs, instalações, performances. Tudo posto em rede e de maneira
rizomática. GHuga se apresentava no ano de 2006 como uma realização de um mundo
em rede possível. Viajando com suas oficinas por onde fosse, sempre também no
plano de águas virtuais, ele se mostrou um cibernomade, um desterritorializado,
num planeta mediado pelas imagens e completamente conectado para o bem, pela a
proliferação de encontros e criações múltiplas. E todos que eram tocados por
ele se tornavam também Imaginautas. Sou um destes.
Aos poucos nos
aproximamos e pude conhecer melhor aquela máquina criativa. Dedico este texto a
desvendar os princípios que regem a engrenagem deste devir continuo. Em um dia
pude ver GHuga explicando pelo três dispositivos criativos em sequência. E no
decorrer de nossa amizade, que já chega a quase 10 anos, várias foram as vezes
que dias como esse se repetiram. GHuga cria constantemente com a objetividade
que o rodeia.
No primeiro curso que realizei com GHuga,
antes de nos tornarmos parceiros, ele me apresentou diversos dispositivos. O
Horablogs é uma sessão de projeção, onde blogs são apresentados de uma forma
cinematográfica e não como uma palestra didática. Em seguida conheci o
Happinghours. Acontecimentos, happenings como happy hours, fins de tarde, em que
a criatividade pulsante de GHuga e seu grupo vem a tona. Depois ele mostrou o
flickrboomboom. Apresentações de fotografias projetadas diretamente do flickr.
Foi o máximo, como diria ele. Cada pessoa abre seu flickr e, retirando a
experiência do flickr da individualidade, cria um evento muito interessante e
gostoso: infinito. E assim foi: CelulaMATER, Fishmob, Var_all, Pé-de-livros,
Jard_imagens, Graffiti in the Rain, Com_Tato_íntimo, PIRACEMAcriativa,
Fiquepeixe, Fotosinta-se e assim por diante. Neste momento ele deve estar
criando um lance novo. Correlacionado a cada nome destes, Ghuga cria um
imagem-conceito que já defini um caminho, com teor de blog. Como se a palavra,
a imagem e a web não pudessem ser separadamente. Está ai um grande campo
imagewordweb.
A
criação de GHuga não parece surgir de uma teoria. Não existe uma metafísica por
trás de seu pensamento. Ele vem de um pensamento concreto, no sentido elaborado
por Lévi-Strauss. Da situação concreta, da palavra concreta, do objeto. Um
artista concreto, verbivocovisual. Sem definições a priori, um índio cibernético.
GHuga é um bricoleur. Junta palavras, neologismos, com imagens e tecnologias. E
desta junção nasce um conceito novo, um acontecimento, uma performance, uma
instalação. Nada tão estanque que não possa fluir. Aliás, esta é uma palavra
muito usada por GHuga. Fluir. Nenhuma criação dessas deixa de fluir. Elas
vibram de acordo com o contexto. Dependendo da necessidade cria-se um novo
dispositivo na hora. GHuga entendeu por experiência própria a fluidez do signo.
A superficialidade da linguagem. Navega sabendo que o mais profundo é a pele.
Desliza uma palavra, uma imagem para um significado outro. Se quer uma flor
verde, verdeja a flor. Uma arte tão total que se assemelha a vida num ritual
ético-estético. Imaginautas são uma comunidade. Expansiva como sempre desejou GHuga
que a fotografia fosse.
É difícil por
isso definir o que é o trabalho dele. Artista? Educador? Poeta? Designer?
Performance? Um tecnólogo? O fato é que ele perpassa por tudo, não se
cristaliza. Esta sempre em devir e pregando a multiplicidade. Adoro quando ele
diz que seu método é “na doida´s methodology”. O início de sua formação está
ligada ao ensino de língua inglesa, mas ele precisava ampliar o esquema sala de
aula, pois via que o mundo era mais que quatroparedes, mais do que um esquema
aulaexpositiva. Sabia que a escrita não pode ser mais só alfabeto e entendeu um
mundo de grafias. Fotografia, Coreografia, Cinematografia... Queria que a
pessoa se expusesse criativamente, aprendendo enquanto se descobre. Chegou ao
osso do conhecimento: a criatividade. Jogou-se na linguaviagem pela beleza tal
qual a vida fluindo. E quando lhe
perguntei o porquê dele não expor suas belíssimas imagens numa galeria, o que
lhe daria mais rentabilidade e status de artista, por ser um formato mais
convencional, ele respondeu que prefere não caminhar na direção óbvia, o
caminho do poder que se instaura, nas Redes e nas Ruas.