Gilberto Gil é
um mestre. E como tal deve ser reverenciado. Não com fanatismo, mas com a
alegria, que a própria figura dele conduz. Um cara que tem uma vida exemplar.
Tanto na arte, quanto no gosto e na luta pelo brasil, quanto, o que talvez seja
o principal, por um ser humano mais sensível.
Gil integrou
um dos grandes movimentos de arte do brasil e do mundo, a tropicália. Deu ares
de baião, de xaxado e de vários outros ritmos da sanfona ao violão. Se tornou
holograma de Gonzagão pela capacidade parabolicamará. E do violão a guitarra foi um pulo. Fez rock
in bahia. Rasgou o frevo. Fez samba pra João Gilberto, dizendo que o rio
continuava lindo. Releu Oswald de Andrade com Caetano Veloso e botou cores
tropicais em melodias internacionais na geléia geral brasileira. Pôs para
circular o expresso 2222. Re-inventou tudo que passou por seu afeto, acatou o
ato do abacateiro e fez a meta ser o inatingível.
De
suas buscas existenciais, de seus retiros espirituais, meditou e encontrou
Buda. Um Buda tão revolucionário e belo que sabiamente chamou de Dorival
Caymmi. Na medida em que aprendia com o tempo rei, dava seus conselhos, e de
forma beatnik criou o “se oriente rapaz”. Um fluxo constante e cinematográfico,
ala Kerouac, também presente no Domingo no parque, que diz do que ele Gil via
como o caminho. Tao te king Gil. O rei da brincadeira, o rei da confusão. Seu
espírito se encontrou com o de Bob Marley no reggae e na mensagem de paz. Que
incluía os Beatles e o imagine de um mundo melhor, mais justo. Foi por isso
político, diplomata carismático. Jogou capoeira pelo mundo afora. Nomeou a
morte, quis falar com Deus.
Tomou
ayahuasca com os índios e lutou por sua descriminalização. Teve um sonho com o
Xingu e cantou músicas dos povos indígenas que conheceu. Louvou a amizade dos
amigos e os santos de festas juninas. Comeu banana pro santo, cantou o
bumba-yê-yê-boi e andou sempre com fé, fé na festa, pois ela não costuma falha.
Exigiu o cabelo duro do Black is beautiful. Foi e voltou da áfrica. É
notadamente brother dos orixás. Fez música para uma porção. É um
quasecultointeiro. Bat macumba. E quando precisou chamou Iansã, iemanjá, Oxossi
também, e mandou todo mundo descer pra ver os Filhos de Gandhi passar, pois era
carnaval.
E
tudo não passou de uma grande besteira. Jogou no céu o anzol para pegar o sol e
tudo que pegou foi um rouxinol. Por isso, os filhos de Gil saem, a partir de
hoje, para homenagear Gilberto Gil.