Agora chove lá fora. Faz um pouco de
frio, uma certa melancolia paira no ar. Entre as serras de minas, muita
tristeza por barragens da escravização de nossa história. Mas não se iludam. O
sol sempre voltar a raiar! O carnaval sempre vem... e este carnaval, com
passado, presente e que virá, é a hora e a vez de Belo Horizonte. Gigante em
números, e com a vontade de todos, ele tece aos poucos uma tessitura própria.
Fiquem atentos, por todos os lados nascem músicas. Cada bloco uma canção! Uma
visão de mundo. Carnaval multiplicai os blocos.
Pluralmente, explodiu o movimento
das ruas. O pacato mineiro quer carnavalizar. Jogar o corpo na rua. Cantar o
que seus olhos veem. Nossa cidade, nossa saciedade. O Rio de Janeiro teve seus
tempos e sempre os terá, o Rio de Janeiro continua lindo. Recife tem frevo há
cem anos. O carnaval dos carnavais. E a Bahia, ah a Bahia, A Bahia foi tudo pra
nós! Eles mostraram a nós múltiplas formas de uma cena músical própria, fora do
eixo. Libertária e emancipadora de seu povo. Eu sou negão. O mais belos dos
belos sou eu sou eu. Minas também é! Preto que só ouro preto. Mas o ouro daqui
não cobriu as peles. Nem a prata ta ta ta ta. Os Mineiros estão estrangulados,
barrados no baile e necessitam botar pra fora. Soltar as vozes ativas. Viva os
inconfidentes e seus poemas bárbaros e belos.
Agora é a nossa vez. Cantemos o que
for preciso. Cantemos nossos povos, nossas causas. Ninguém vai nos barrar. Este
carnaval é nosso e nós temos que cultivá-lo, não é Gutão? Não à
mercantilização! Em prol da diversidade máxima, em prol da biodiversidade, para
arrumarmos nossas casas que são a extensão das ruas. Santa Tereza em êxtase! E
que depois a cidade faça a lavagem de todas ruas de pedras e das esquinas
talhada por violões. O Concórdia abre o caminho da revolta, do retorno eterno
da África mineira. Afoxés e terreiros, congados e mães de santo. O centro todo,
todo dia. A praia da estação 24 horas mil grau. A mata e o planalto, o jardim
américa, floresta toda. A savassi savasseia por bares e requintes serpenteando
até Santo Antônio. As Santas todas. O Taquaril e a Renascença! O Tupi e o
Riberão do Onça. A Pampulha e a praça da Liberdade. A rua da Bahia, e a bahia
na rua. O barreiro, barreiro. ACORDAIS CIDADÃOS DE BELO HORIZONTE!
Belos Horizontes, as canções
fotografam impressões sobrepostas a tudo que já cantávamos das outras cidades
carnavalescas brasileiras. Belos Horizontes, para uma mobilização de afetos e
encontros pelas águas, águas gerais. Belos Horizontes, muito além dos clubes e
das esquinas. De sonhos jovens posto que sonhos não envelhecem.
Esta é a hora e a vez de Belo
Horizonte, num carnaval de mulheres amazonas maravilhosas sagradas e profanas,
onde não é não!, e Simone de Beauvoir desfila em corpos desnudos. De homens travestidos
e afetivamente dóceis. Da pluralidade de gêneros e de toda maneira de amor vale
a pena. De coletivos fortes. Num carnaval que traz do interior do nosso estado
(de almas), surrado e obviamente barrado, das cidades históricas
desmineralizadas, um povo grandioso que quer vir para o capital. Onde a grana
gira e que se bobear engana a todos redondamente. Não me amarra dinheiro beleza
pura. E que tem tudo para receber doses e doses de Belo Horizontes. De um povo
que ri quando deve chorar, aberto ao outro e potente quando é o caso da poesia.
Tinha um carnaval no meio do caminho...
Que as canções nos inundem cada vez
mais, vamos nos ampliar nos espelhos do desejo pois essa onda ninguém segura. O
cover é finito, a criação é infinita. Quem canta seus males espanta! E a vida,
e a vida o que é diga lá meu irmão?